A vida da familia Jacome-Gerbase
Antonio encontrou Maria muito antes do casamento, na loja do pai dela, em Maceió. Casaram-se em 1901, ele com 37 anos, ela com 18. Dizem que, desde que a viu, Antonio se referia a Maria como "Minha bela Maria". Ao longo da vida, usou frequentemente esse termo em cartas.
Por volta do casamento, Antonio associou-se ao pai de Maria e, com o falecimento deste, herdou o negócio. Isso influenciou a expansão das casas comerciais, que tiveram grande sucesso financeiro e social, sendo uma realização conjunta do casal. Relatos indicam que ambos tinham personalidades fortes e complementares. O grande afeto entre eles transparecia, assim como uma profunda religiosidade. A devoção a Santo Antonio Abade, padroeiro de Vibonati, eram aspectos marcantes na vida dos Gerbase.
Como emigrantes, tiveram que trabalhar para conquistar seu espaço social e econômico em uma cidade provincial, mas ainda assim mais desenvolvida do que suas cidades de origem, Capitello e Vibonati, no sul da Itália. Apesar disso, jamais cortaram os laços com sua terra natal, laços que permanecem até hoje. Ao que tudo indica, não pretendiam voltar, diferentemente do irmão mais velho de Antonio, Pietro, que retornou à Itália.
Os filhos nasceram entre 1904 e 1917: Vicente, Philomena, José, Antonio Filho e Francisco. A escolha dos nomes respeitava as tradições familiares: Vicente, nome do pai de Antonio; Philomena, nome da mãe de Maria; José, nome do pai de Maria; Antonio Filho, em homenagem ao próprio Antonio. Sobre Francisco, não há registros sobre a origem do nome.
Como auxilio na criação dos filhos contavam com Sebastiana. Ama seca e governanta, afetuosa, habil e eficiente. Uma segunda mãe, segundo José. Entre as recordações de infância dos filhos estão idas à praia com segurança garantida por cordas, camisolões sem roupa de baixo (o que gerava brincadeiras das outras crianças), e uma perseguição entre José e Mena no segundo andar da casa, que terminou com uma tesoura cravada no pé dela.
Aos domingos, o casal e os filhos frequentavam corridas de cavalo e tomavam sorvete (e água gelada). O Carnaval era um evento especial: a Casa Gerbase montava uma barraca na praça principal, onde vendia confete, serpentina e lança-perfume, com toda a família envolvida na diversão.
O design da época foi primorosamente executado, e a qualidade dos trajes da família é inegável. O savoir-faire da alfaiataria era enriquecido pelas constantes viagens à Itália, refletindo um apurado senso estético. Atenção especial era dedicada aos sapatos e às gravatas, elementos que complementavam a elegância do vestuário. A foto de Antonio´com José, datada de 1920, é um exemplo notável desse requinte.
Os estudos primários e secundários foram realizados em Maceió e concluídos no reputado Liceu Alagoano, dirigido pelo culto e firme Professor Aguinelo.
Poucos anos após o casamento, Antonio passou a viajar para a Itália, tanto para visitar a família quanto para comprar mercadorias para seu comércio. Maria assumiu não só os negócios, como também todos os encargos de mãe e administradora da família. Em 1920, Antonio partiu com o filho José para Vibonati, onde permaneceu por um ano. Sua atuação no comércio e suas relações tanto em Maceió quanto na Itália levaram-no a ser nomeado, em meados dos anos 1930, cônsul da Agência Consular de Sua Majestade, Rei da Itália e da Albânia e Imperador da Etiópia em Maceió, Alagoas.
Mena casou-se em 1922 com Júlio Corre de Farias.
Gradativamente, Vicente, o filho mais velho, tornou-se a terceira autoridade da família, posição que manteve ao longo da vida. Isso trouxe segurança para os pais e irmãos quando precisaram sair para estudar, mas também gerou tensões naturais entre eles.
A partir do final dos anos 1930, os filhos começaram a deixar Maceió para continuar seus estudos universitários. José foi inicialmente para Recife e, em 1930, para o Rio de Janeiro. Antonio e Francisco o seguiram. Vicente permaneceu em Maceió, onde se casou no início dos anos 1930 com Carolina Ribeiro, que passou a ter participação ativa na família e na Casa Gerbase.
Mesmo distantes, os irmãos mantinham uma correspondência frequente e extensa com a família em Maceió, além de realizarem muitas visitas.
Nos anos 1930, Vicente e Lili tiveram dois filhos: Benedito e Antonio, que, juntamente com Alice, filha de Mena (nascida em 1929), tornaram-se netos presentes, ativos e amados. Antonio, Maria, Vicente e Lili formaram o núcleo familiar em Maceió.
Em 1943, Antonio faleceu aos 79 anos, cercado por sua família. Sua memória permaneceu viva como referência para todos.
José, após concluir o curso de medicina, especializou-se em Dermatologia e, em 1938, mudou-se para Porto Alegre, onde casou-se em 1944 com Lea Barth e estabeleceu-se definitivamente.
Após concluir Medicina no Rio de Janeiro, Antonio voltou a Maceió e casou-se, em 1947, com Laudirce Guedes.
Francisco, ao finalizar o curso de Direito, também retornou a Maceió e casou-se com Marlene Peixoto em meados dos anos 1950.
Durante as décadas de 1940 e 1950, a casa de Maria Jacome Gerbase permaneceu como o centro de referência da família. A Casa Gerbase passou a ser administrada por Vicente.
Em 1950, José, sua esposa Lea e a filha Maria visitaram a matriarca, e essa visita foi extensamente registrada em fotografias e textos.
Maria Jacome Gerbase faleceu em 1953, cercada pela família. Há uma carta de José para Lea relatando seus últimos momentos.
Os descendentes imediatos de Antonio e Maria seguiram a trajetória familiar em Maceió, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Hoje, os descendentes, já na sexta geração, estão espalhados por todo o Brasil, Américas e Europa, mantendo viva a memória desse casal, que foi uma origem marcante e significativa para todos.